Trabalhar com o que você gosta

Quando eu terminei o texto de anteontem, o de hoje já estava pronto na minha cabeça.

Depois de passar tanto tempo escrevendo quando eu era mais nova, é quase impossível dar preço para uma coisa que para mim tem um valor inestimável: a minha criatividade. Além disso, escrever é a minha única maneira de me comunicar de verdade com o mundo, onde eu consigo expressar tudo sem me atrapalhar.

Outra coisa que eu devo falar sobre hoje é: eu tentei procurar emprego outra vez e não consegui nada. Sempre falta formação, experiência, disponibilidade de horário, qualidade de acesso ao local da empresa... Nunca sobra, nunca é o suficiente.

Eu até me sinto uma idiota por acreditar que tudo é abundante.

É complicado manifestar essa abundância quando a sua volta há uma camada espessa de medo da miséria e inveja do outro.  

No meio disso tudo, trabalhar com o que você gosta é um ato político.

É também uma forma de romper o sistema vigente e provar que é possível ganhar dinheiro e ser feliz ao mesmo tempo. É muito mais que do que ter comida no seu armário, é ter a sensação de fazer a sua parte no mundo.

Mas estou falando de dinheiro de verdade, de pagar contas, de poder viajar, comer em restaurantes. Ter um carro, uma casa, estabilidade. Ser reconhecido entre os demais na sua área. Poder ajudar as pessoas e as causas que você acredita. Ter a oportunidade de enriquecer a si mesmo de todas as formas possíveis.

Para maioria isso é maravilhoso.

Em um cenário de abundância todos tem essa oportunidade.

Eu gostaria muito de trabalhar como terapeuta holística, filosofa ou diretora de cinema ou artesã, cabeleireira ou todas essas coisas juntas, ou algumas delas. Eu gostaria de ajudar as pessoas, de alguma forma fazer desse mundo um lugar mais bonito, e eu gostaria de ser paga para isso.

É uma escada que eu pretendo construir e eu preciso de bons tijolos.

Todos que realizaram os próprios sonhos sem depender ou se escorar nos outros, em algum momento, tiveram que se esforçar muito. Escolher não pedir também é difícil. Escolher não pedir nada para os seus pais ou para a pessoa com quem você mora significa deixar seu próprio conforto de lado, suas vontades de lado, e se concentrar na ideia de que ninguém é responsável por você.

Não pedir, também não significa não aceitar. Sem radicalismo.

Estar dependente não é ser dependente.

Tudo muda, tudo se transforma.      

Vai chegar um dia onde as minhas necessidades de hoje não terão mais nenhum significado.

Um dia em que os sonhos serão reais, ou outros sonhos, ou outras coisas.

Vai chegar um dia em que eu e você teremos dinheiro e recursos suficientes para priorizar a felicidade. Mas esse dia só vai chegar com esforço, sangue, suor, lágrimas e muita coragem. Crescer dói.