Trabalhar com o que você NÃO gosta


Hoje é dia de entregar texto aqui no blog, eu desisto só de pensar.
Muita gente da minha geração está dando o sangue em estudar e produzir para trabalhar com o que gosta e eu acho isso muito... estranho.
Não estou falando com em trabalhar para algo que você odeia ou não consegue fazer, eu jamais faria coisas como capinar mato ou limpar janelas de prédios, afinal eu não posso tomar muito sol e morro de medo de altura. Eu estou falando que eu não escolhi trabalhar com o que eu gosto, no sentido de que as minhas criações são mais voltadas para a arte do que para o produto. Eu não sei fazer nada que as pessoas gostem, a não ser que seja acidentalmente.
Uma vez que essas ocasiões não sustentam ninguém, eu acredito que é muito mais confortável trabalhar com algo que não é tão importante para mim e traz o dinheiro que eu preciso.
Hoje mesmo eu fiz uma entrevista de telemarketing. É muito engraçado que as entrevistas de telemarketing são sempre iguais, os testes, as perguntas, e no fundo o trabalho também não muda. Quando eu não passei na entrevista, deu até um alivio, a sensação de que 2013 tinha realmente ido embora.
Trabalhar no telemarketing pode até ser chato, por isso eu tenho mandado currículos em áreas que eu nunca trabalhei, mas o que eu não posso fazer é esperar que alguém me pague por um poema ou roteiro ou achar que no meio dessa crise toda um livro de fantasia vai salvar a situação aqui em casa. Quando você precisa comer agora ou quando a sua cama está quebrada viver um sonho incerto é quase loucura.
Enquanto todo mundo vê aqueles que trabalham com o que gostam como heróis, eu sempre me pergunto por quanto tempo essas pessoas ficaram pedindo favor até se estabilizarem. O trabalho deve nos trazer dignidade e não ferir ninguém, mas não é tão importante assim, não tão importante quanto ser justo com o outro e com o esforço do outro.
Seria muito mais fácil esperar que meu marido me sustente enquanto nenhum dos meus projetos mirabolantes dá certo do que ficar procurando emprego numa época tão desesperadora. Ao invés de pensar no mínimo que ele tem a compartilhar, eu penso no máximo que podemos conseguir.
Mesmo assim, é essa a minha situação.
A sua só diz respeito a você.  

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